O ano é 1994. O dia, 17 de julho. Num domingo de manhã, dia da final de Copa do Mundo, a rua no subúrbio do Rio de Janeiro estava toda enfeitada e pintada de verde e amarelo. Eu tinha meus 8 anos de idade e estava todo empolgado ajudando os vizinhos quando um pai de um amigo falou que estava torcendo para a Itália ganhar a Copa. Olhei para ele com reprovação, imaginando por que diabos alguém torceria contra a Seleção Brasileira ? ela representava o país, tinha os melhores jogadores, o melhor futebol e toda aquela babaquice ufanista que a Rede Globo nos faz acreditar. No final, depois do pênalti batido por Roberto Baggio, o Brasil ganhou e eu pude sorrir na cara do meu vizinho traidor da pátria, enquanto gritava "é téééééétra" com Galvão e bebia minha Coca cola.
O ano é 2011. O dia, 17 de julho. Num domingo de tarde, dia de quartas de final da Copa América, eu estava na frente da TV, com notebook no colo, bebendo Coca cola e trabalhando. A rua não estava enfeitada, eu nem falo com meus vizinhos. No final, depois dos quatro pênaltis batidos para fora pelos jogadores brasileiros, o Paraguai seguiu adiante, e a Seleção Brasileira, agora pentacampeã do mundo, volta para casa com seus cabelos estilosos, chuteiras coloridas. Eu sorri. Exatamente nessa hora, eu lembrei do rosto do meu vizinho, outrora traidor, que ficara triste com a vitória da Seleção sobre a Azzurra. E entendi o sentimento.
O que mudou de lá para cá ? A compreensão de que a Seleção brasileira não representa a pátria, e sim os interesses da corja que povoa a CBF e comanda o futebol nacional de acordo com seus interesses e de seus parceiros, esse eufemismo para PATROCINADORES. As convocações têm nomes fixos, mas não por merecimento, e sim por imposição do dinheiro e do poder de influência. Não sinto minha aquela camisa amarela. Não a visto, apenas a do meu Milan.
Esse é outro sintoma da perda de carisma da Seleção brasileira, ou SeleCBF. Ela não tem mais a cara da população, e muito menos apelo com essa. Enquanto os clubes são alvos de grande paixão e adoração, o time "canarinho" nada mais é do que diversão descartável, que o torcedor comum não fica triste de ver eliminada de maneira melâncólica da competição continental. E o torcedor que tem consciência do que o time nacional se tornou, fica feliz de ver derrotada e mais ainda por ver os poucos jogadores que atuam no futebol brasileiro convocados retornarem a seus clubes, onde o verdadeiro futebol reside.
Sem falar, é lógico, da grande sujeira que é a relação Rede Globo-CBF. A falta de vergonha e caráter nas pessoas que atingem a maior parte da população e tratam um esporte sério e lucrativo como simples diversão sem qualquer interesse em ser parcial ou informativo. O esporte deve ser levado a sério, sempre. Eles formam opiniões erradas e alienadas da verdade, distantes do que realmente é importante saber. A puxada de saco de um repórter na coletiva antes do jogo foi um exemplo claro disso.
Assim, com esses pensamentos e, 17 anos depois, vendo torcedores verdadeiramente apaixonados por sua seleção comemorem após pênaltis mal batidos, entendi o que meu vizinho pensava sobre futebol e vi que ele tinha razão. Torcer para que essa seleção perca, e que as pessoas que estão lá sejam banidas do esporte é, na verdade, torcer pelo bem do esporte.
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