Olhar para trás e lembrar o time do Milan que ganhou o Scudetto 03/04, tendo Ancelotti no banco, Rui Costa, Pirlo e Seedorf em campo, Kaká no banco, Cafu e Pancaro apoiando demais os meias e sabendo defender bem, e, no ataque, SuperPippo Inzaghi e Shevchenko é um exercício de prazer e de felicidade. Agora, a diferença entre aquele Milan e o que, 3 anos depois, conquistou a Europa e o Mundo já é grande. Imagina, então, se compararmos com o Milan de Allegri, atual detentor do Scudetto e líder na corrida pela título este ano, veremos o quanto a filosofia mudou com o tempo, e de acordo com o plantel a disposição do treinador.
No Milan 03/04, os jogadores citados estavam em seu auge e, aproveitando-se de um time cheio de bons armadores, com idade e fôlego, "Don Carletto" arrumava suas peças normalmente em um 4-4-2, variando entre 4-2-2-2 (com dois meias e dois volantes) e um 4-3-1-2, do mesmo jeito que Allegri arruma o time hoje em dia. A diferença era que o trequartista tinha menos velocidade, e mais inteligência, revezando-se Rui Costa e, muito raramente, o recém chegado Kaká. Era um Milan mais lento, é verdade, porém, com um meio campo inegavelmente talentoso e elegante, a exceção do querido e amado Gattuso.
Após 3 anos, já sem Sheva e com a idade atingindo a todos de seu elenco principal, Ancelotti se viu forçado a arrumar um esquema que aliasse a segurança necessária a sua envelhecida, mas segura, defesa com uma liberdade para seu principal jogador, Kaká, poder avançar, em vertical, sempre na direção do gol. O que se esboçou foi um perfeito 4-5-1, arrumado no que ficou conhecido como a "árvore de natal de Milão", um famoso 4-3-2-1. O meio campo composto por Gennaro "Rino" Gattuso, Andrea Pirlo e Massimo Ambrosini marcava bem e, com a qualidade do segundo nome citado, dava saída de bola para Clarence Seedorf lançar Kaká, para que esse usasse toda sua explosão e velocidade batendo a gol ou tocando para Inzaghi (às vezes Gilardino) estufar as redes. O sétimo título europeu rossonero veio dessa forma, assim como os prêmios individuais de Kaká.
Desde que assumiu o Milan, Massimiliano Allegri vem aos poucos moldando o time a seu gosto e, lógico, com as peças que tem. Seu 4-4-2 em losango (ou diamante), conhecido por 4-3-1-2, é, como mostram os resultados recentes e passados, muito eficaz. Entretanto, uma opção feita pelo técnico chama muito a atenção. O meio campo do Milan perdeu totalmente o espaço para jogadores talentosos, de bom passe, mas lentos. O chamado Regista, aparentemente, desapareceu das intenções Allegrianas.
O fato se comprova pelas peças desse setor consideradas titulares. A classe e elegância de Pirlo e Rui Costa foram substituídas pela forte marcação, músculos e velocidade desenfreada de Nocerino, Muntari e Van Bommel. Aliás, esse último é o pilar de sustentação deste meio campo rossonero. Claro que Seedorf ainda está lá, e tem suas chances de mostrar que pode reviver alguns de seus melhores anos, lá da década de 60. Mas a única peça que se assemelha ao estilo de jogo do holandês 10 milanista é Alberto Aquilani. E, como se sabe, esse aí é mais chegado em uma enfermaria do que em um campo de jogo.
Força, velocidade e um talento não faltam ao atual trequartista titular do time. Kevin Prince Boateng é o perfeito enganche entre a defesa, o meio campo defensivista e alterofilista de Allegri e o ataque, aquele feudo do Ibrahimovic. O que Kaká representava em 2007, Boateng faz exatamente o mesmo trabalho desde a temporada passada. Mas não se pode falar que o ganês é exatamente provido de uma classe e elegância ímpares dos que já ocuparam a mesma vaga no Milan.
Aos poucos, e de forma vencedora, músculos e velocidade tomaram o lugar do talento e cadência no Milan. A saída de Pirlo foi emblemática, assim como o surgimento de Prince Boateng e Nocerino, os símbolos de Allegri nessa temporada. Funcionar, está funcionando. Mas falta um verdadeiro fuoriclasse, com visão de jogo e que dite o tempo da partida, e isso fica muito claro quando Ibrahimovic precisa sair da área para criar as jogadas.
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