Diz o Orélio: Torcida é um conjunto de indivíduos que torcem, id est, dão apoio ou esperam resultado positivo. São inúmeros exemplos de Torcedores ao redor do mundo que encantam outros com suas músicas, seus gritos, sua paixão... mas e quando jogam contra? Antes da crítica, eis que fala um Torcedor que será criticado por este autor.
Torcer é sair cedo de casa, pegar transporte (público ou mesmo o confortável carro e todas as suas despesas), chegar cedo ao estádio, sentir o clima do jogo (mesmo quando tem aquela multidão de menos de 1000 pessoas), beber uma cerveja (ou refrigerante caso tenha sido vetado pelo Departamento Médico), subir a rampa (seguindo toda a superstição) e finalmente acomodar-se (seja na geral, numerada, arquibancada ou camarote) para Torcer. É o tal momento, aquele de difícil compreensão por racionais e críticos: ali, no estádio, o cidadão está forçado a atender ao conceito fundamental da palavra e apenas torcer. Apoiar, empurrar, estimular, xingar o árbitro, abraçar o desconhecido que virou o mais novo melhor amigo graças ao gol do Pereba!
Não tem susto, juiz ladrão, bola na trave, empate, sufoco, gol do adversário, técnico burro, derrota amarga, frango, carrasco, goleada. Não! Na beira do gramado, Torcedor tem que torcer! Empurrar, apoiar e fazer tudo aquilo esperando o resultado positivo... Mas e se ele não vem? E se o zagueiro falhar? E se o técnico mexer mal? E se o time não ver a cor da bola? E se a goleada for inevitável? Bem, se não for com o meu time, aí é um absurdo reclamar!!
Protestem: no aeroporto, no treino, na saída do hotel, na entrada em campo! Xinguem na saída do campo, na volta pra casa! Cobrem do dirigente na entrevista! Mas não, com a bola rolando, durante 90 minutos, não ousem reclamar do lateral que não sabe cruzar, do goleiro frangueiro, do zagueiro anão ou mesmo do atacante que nunca fez um gol! Não façam isso, se, claro, torcerem para outro time! Porque se isso acontecer com o meu time, serei o primeiro a fazer tudo isto, a perder a racionalidade e a frieza do jogo da TV de LED 52" com ar condicionado, petisco e cerveja e me transformar num Torcedor, literal, daqueles que sentem nas vísceras a dor de uma derrota, que voltam com olhos marejados sem saber o que explicar pro filho, que choram pensando no dia seguinte na escola ou quanto do salário está comprometido nas apostas.
Que me perdoem os chics, mas sou corneteiro do meu time. Não suporto ver o meu time jogando mal em casa, o técnico mexendo errado. Não suporto ver a zaga falhando e a virada que está na cara se concretizar sem dificuldade. Sou Torcedor! Apoio, empurro... Mas se a bola não chega e o time não joga bem, sou Torcedor! Que abandono compromissos para ver jogos, vou sempre que posso, pago o meu ingresso e que discordo daquilo que vejo e chego a pensar "ou eu não entendo nada de futebol ou tem alguma coisa errada". E aí de você que abanar com os braços e dizer "não xinga no nosso estádio..." E mesmo que assista no conforto do meu lar na minha tv chic, sou Torcedor, e o meu time, ah, o meu time é o Melhor time do mundo!
E mesmo depois deste longo texto, queria criticar a torcida do Vasco que protestou contra o (fraco) Cristóvão Borges... Mas o Felipe estava morto, precisava sair... O problema é que o problema não foi essa alteração. Foram as derrotas (vices) recentes, foi o susto na Libertadores, foi tirar o atacante na final, foi o lateral (em negociação com o Flu) cair ridiculamente de produção tendo um excelente reserva. Em outro time, a batata de Cristóvão já teria assado há muito tempo, a impaciência crônica não é tradição no Vasco (como no Botafogo) mas existe, é um sintoma de uma patologia sem remédio mas com tratamento eficaz: vitórias, títulos. Em caso de derrota, jogadores, técnicos e diretorias saem... Só os Torcedores ficam!
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