Em algum "De Bico" desses da vida eu tinha falado que chegaria a maio comemorando o vice-campeonato, sem qualquer vergonha. Dito e feito. Mas, muito mais do que decepção e desgosto pela perda do Scudetto (Parabéns, Juventus), ou o ceticismo acerca da próxima temporada, o sentimento que domina a alma de todo rossonero hoje é a saudade.
A última giornata deste temporada 11/12 reservou a mais linda e perfeita história para o fim de uma era vitoriosa. Uma geração que nunca mais será esquecida, nem por torcedores, nem por imprensa e, principalmente, por nenhum dos derrotados por estes jogadores. Por estas camisas.
Em San Siro, contra o Novara, o Milan se despediu de Alessandro Nesta, Gennaro Gattuso, Clarence Seedorf, Gianluca Zambrotta e, principalmente, de Filippo Inzaghi. Todos haviam anunciado sua aposentadoria, ou saída do Milan, nesta semana, pela imprensa. confirmando o que já se poderia concluir pelo andar da carruagem. Não digo que estão errados, apesar de saber que três dos nomes citados ainda poderiam contribuir e muito com sua experiência para o clube. A partir de agora, o texto é mais pessoal do que analítico ou mesmo informativo.
Eu, Rodrigo Moraes Bastos, me apaixonei novamente pelo futebol, após 5 anos de total desprezo e afastamento, muito em conta pelo falecimento do meu avô, ao assistir uma partida do Milan. Na verdade, ao assistir a classe, elegância e firmeza de um zagueiro, uma força silenciosa, metade do muro intransponível formado por lendas e homens de caráter e de história. Não havia atacante rápido demais, alto demais ou habilidoso demais que não houvesse temido aquele ícone da mais pura frieza e retidão quando da execução de seu traballho. O Maravilhoso senso de colocação, que lhe dava vantagem sobre o mais fortes, de antecipação, sobre os mais velozes, e, principalmente, o tempo perfeito na hora de deslizar sobre o gramado, acertar a bola, levantar e sair para o jogo, deixando o adversário apenas com a vaga lembrança de ter visto uma camisa 13 passar diante de seus olhos.
Antes, ou depois, de a bola passar pela defesa, eu tenho certeza que o adversário tremia ao ouvir o som de passos largos e pesados indo em sua direção. A sinfonia que a respiração e o os dentes trincados de obstinação, buscando apenas um objetivo: recuperar a vantagem. O que devia ser mais assustador era sentir o bafo de alguém tão incansável e determinado chegando perto. Este homem das cavernas tinha a ciência de que sua função era odiada, seu trabalho era oferecer o oposto do que todos esperavam em uma partida de futebol, mas, mesmo assim, era tanta paixão em seus gritos, reclamações e desarmes que não havia como não admirá-lo. Lógico que sua paixão beirava ao descontrole, dentro de campo, e eis mais um motivo para querer que sua jornada nunca terminasse. Que seus dentes nunca deixassem de trincar, e que os atacantes nunca pudessem respirar aliviados, sabendo que seus ossos estariam livres do melhor cão de guarda que já se viu.
Mas nem só de força se vive. O futebol tem sua magia, sua música e, logicamente, seu maestro. Do lugar do futebol total, onde nascem o mais habilidosos e elegantes jogadores veio o multicampeão regista. Não se pode exigir a mesma aceleração de quando o maestro conquistou sua primeira glória europeia, e todos sabem muito bem disso. Mas, como todo bom fuoriclasse, ele sabe muito bem como tratar a bola e, com carinho, conquistá-la e convencê-la a ir aonde ele quiser. Seja em um lançamento longo, uma das especialidades do chefe ou mesmo em batidas de meia e longa distâncias, aquela camisa 10 nunca decepciona, como todo bom Sniper, o atirador de elite, que não precisa de mais de uma bala por vez para fazer o que um louco desprovido de talento com uma metralhadora não o faz.
O maior herói, o maior símbolo de todos, a paixão e o sentimento em pessoa, a camisa 9 mais verdadeiramente "9" deste, e de outros, mundo receberá um carinho especial. Assim como o fez para todos os milanistas.
Um comentário:
texto muito bonito cara, realmente tocante.
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