Zico. Sensacional. |
Zico é, acima de tudo, um dos mais competentes profissionais do futebol brasileiro. Quase "cidadão do mundo", ensinou, com o time sensacional do Flamengo da década de 80, ao Brasil e ao mundo, em 1981 (ao Liverpool também, claro) o que era o verdadeiro futebol e deu uma amostra do que viria na Copa do Mundo do ano seguinte. A diferença, claro, que o time do Galinho trouxe o título mundial. Sozinho, ele ensinou aos japoneses como se deveria jogar futebol de verdade, no começo da década de 90. Sìmbolo máximo de honestidade, simpatia e carisma, Zico já mostrou mais do que poderia se esperar tanto do menino franzino de Quintino, em campo, quanto do craque camisa 10 quando topou ser treinador. Bom trabalho com o Japão em 2006, Olympiakos (onde foi demitido "à brasileira) e Fenerbahce na UCL.
Mas o que gostaria de comentar é a entrevista concedida por ele à revista "Placar", que estará nas bancas em Outubro. A ESPN, em seu site, traz as declarações que são mais simbólicas dessa entrevista, como:
"Hoje, quando os garotos se sobressaem, os pais acham que eles serão a salvação da família e jogam tudo em cima deles. A gente dizia na nossa época que 'filho bom é filho órfão', aquele que o pai não leva ao treino, não enche o saco, não dá trabalho"
Isso já diz muito sobre o que se passa nos "criadouros de jogadores" que os dirigentes de clubes teimam em chamar de "categorias de Base". Lembrando que essa foi uma referência claríssima ao episódio Neymar F.C. X Dorival Jr. O galinho ainda acrescenta que, na sua época, ia sozinho ao treino, e à escola pegando ônibus e trem, andando um bom pedaço, com sua chuteira embaixo do braço. Essa declaração é um exato resumo do que acontece com o fenômeno social chamado futebol.
A crítica, mais clara impossível, é quando o menino pobre, que tem seu talento reconhecido muito cedo pelos "olheiros", recebe sondagens e propostas, ainda muito, muito jovem, de clubes grandes e agentes. As tais propostas milionárias são feitas e apresentadas ao menino e à família. Ora, como a maioria da população brasileira vive a margem da pobreza, qualquer possibilidade de se ganhar muito dinheiro é agarrada com unhas e dentes. Assim, o "projeto de jogador" passa a carregar nas costas toda a expectativa de ascensão social da família. Os pais, nesse momento, passam a ser dependentes do filho, invertendo papéis e criando um quadro onde todas as vontades do menino são obedecidas e tornadas realidades. Não há repreensão, educação ou ensinamentos. Não há limites. E, como resultado, temos jovens, que chegam a fase adolescente ou quase adulta, sem ter tido uma infância sadia e construtiva. Sem nunca terem ouvido "não" dos pais.
Os poucos jovens que chegam ao patamar de jogador, profissional ou não, muito valorizado pelo mercado, os pais começam a tratar o filho de maneira super-protetora, o impedindo de tomar decisões importantes e de encarar problemas. Não é passado ao jovem a noção de respeito a hierarquia. Assim, ocorrem episódios ridículos como o "faniquito" de Neymar e, bem antes, a greve de Robinho para ser negociado pelo mesmo Santos.
Imagem e semelhança. Produtos da realidade atual. |
Uma outra declaração de Zico, na mesma entrevista, foi a respeito de Adriano e seu custo-benefício para o Flamengo, em sua passagem durante o ano passado. O dirigente rubro-negro voltou a criticar o jogador, e disse:
"Qual a vantagem que o Adriano trouxe ao Flamengo? O título brasileiro? Isso não paga. Brasileiros, só o Flamengo já tinha cinco"
Vantagens pra quem, Adriano ? |
Essa é mais direta, e, para mim, indiscutível. Na minha opinião, mesmo com o título brasileiro, a estadia de Adriano no Flamengo só demonstrou a desorganização do Clube, a importância em demasia que é dada aos jogadores no Brasil. Regalias, faltas injustificadas, sumiços, atuações fracas durante esse ano, confusões, suspeitas de participação em negociações escusas. Páginas policiais foram escritas tendo o escudo do Flamengo como pano de fundo. E, lógico, sempre teve um dirigente para "passar a mão na cabeça" do coitado do Adriano. Se a Libertadores era o verdadeiro sonho e objetivo do rubro-negro carioca, apostar em Adriano se mostrou um erro. Sua passagem, para mim, só serviu para arranhar mais a imagem do Clube.
Um comentário:
Concordo com TODO seu texto, Mogais! Galindo dando show de coerencia, como sempre...
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