sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Quem tem medo do Engenhão?

    Foi domingo, dia 05 de setembro, que o Maracanã fechou as portas e entrou em reforma para a Copa de 2014. De lá pra cá as equipes cariocas mandam seus jogos do brasileirão aonde estiver vago, principalmente Flamengo e Fluminense que não possuem estádios próprios. Desde o início do mês o Estádio Olímpico Municipal João Havelange, Stadium Rio, Engenhão ou qualquer outra coisa que você quiser chamar se tornou o principal estádio carioca.

    Inaugurado em 2007 para os Jogos Pan-Americanos, o Engenhão se tornou a casa do Botafogo no mesmo ano e o time da estrela solitária passou a mandar seus jogos no novo campo. A capacidade total do estádio é de 46.831 espectadores. Agora eu pergunto: por que o público total dos jogos raramente chega perto dos 40 mil presentes?


    Os torcedores mais engraçadinhos, excluindo os botafoguenses, claro, apelidaram o estádio de "EncheNão". Aproveitando-se da dificuldade numérica da torcida do Botafogo que seria incapaz de encher um estádio de futebol, mesmo com o seu time em grande fase. Longe de mim ficar protegendo o time - e a torcida - dos outros, mas já tivemos provas suficientes de que a culpa não é só do alvinegro. Aparentemente TODOS os cariocas têm algum problema com o estádio.


    Nas duas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro tivemos dois clássicos seguidos no estádio. Flamengo e Fluminense disputaram o primeiro FLAxFLU do Engenhão e o público presente foi apenas 18.911. Nesta semana o Botafogo arrancou um empate heróico contra o Vasco e somente 16.736 pessoas assistiram. O público não chegou nem a metade da capacidade total nos dois jogos e, penso eu que, somente os rubro-negros tem bons motivos para evitar ver a atuação do seu time. O Fluminense disputa a liderança do campeonato com um dos melhores elencos da competição, o Botafogo briga por uma vaga na Copa Libertadores e o Vasco, está jogando um futebol infinitamente melhor do que estava antes da Copa do Mundo. Até em jogo da seleção brasileira o carioca decepciona no Engenhão. Em 2008, a seleção empatou em 0 x 0 com a Bolívia na frente de 31.422 pessoas e pouco mais de 20 mil pagantes, sendo que 39.500 ingressos foram postos à venda.
   Podemos colocar a culpa disso tudo no difícil acesso ao estádio? Sério que é tão difícil assim chegar lá ou é exagero dos cariocas que acham que o Rio é só o que fica entre o Leblon e a Tijuca? Pra quem ia ao Maracanã de trem, não muda absolutamente nada! Pra muitos fica até mais perto. Se seu ingresso for para o setor Sul do estádio então, melhor ainda. A estação de Engenho de Dentro é em frente à entrada desse setor.

Visão de dentro da Estação Engenho de Dentro.

    Se de trem é tão fácil, de metrô também não muda muita coisa, certo? É só comprar o bilhete de integração. É um pouco mais caro, verdade, mas não vejo muita dificuldade pra quem ia de metrô ao Maracanã, aumentar um pouquinho o trajeto até chegar ao Engenhão.
    Agora quem está acostumado a assistir aos jogos de carro ou de ônibus eu compreendo totalmente a dificuldade. A quantidade de ônibus que saem de todos os cantos da cidade e passam nas redondezas do Mário Filho é bastante superior à quantidade de linhas de ônibus que tem Engenho de Dentro no trajeto. Quem está acostumado a ir ao estádio com seu próprio carro é, definitivamente, quem mais sofre. Segundo o site do Botafogo o Stadium Rio possui 1.660 vagas cobertas. Esse número parece brincadeira para um estádio com capacidade para mais 45 mil pessoas. O entorno do Engenhão não oferece nenhuma outra boa opção como existe a UERJ no caso do Maracanã.


    Não comecei este texto em momento nenhum para dar soluções, nem para apontar culpados. Quis só constatar um fato e compartilhar com vocês minha preocupação. Os recordes de público dos campeonatos nacionais normalmente são alcançados no Rio de Janeiro e agora nossa média está caindo drasticamente.
    Não adianta reclamar, xingar o Botafogo, amaldiçoar o Governo e desejar o Maracanã de volta. Ele só volta em 2013 (eu espero), até lá o que temos está aí e precisamos nos acostumar. O futebol carioca já não é lá grandes coisas em termos de organização e qualidade, sem as torcidas os times perdem grande parte da sua força e o Campeonato Carioca perde todo o charme. Vale lembrar que - sei lá por qual motivo - a segurança no entorno do Engenhão é mais tranquila em relação a Lei Seca e ainda é possível tomar uma cerveja com os amigos antes e depois dos jogos. Já é um bom motivo para dar uma esticada até o estádio não é? Nada combina mais com futebol do que cerveja.


    Então, por motivos alcoólicos ou não, partiu Engenhão?

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